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Como perdoamos os nossos devedores

“e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores”

Mateus 6.12Mateus 6.12

A Bíblia costuma se referir à realidade do pecado como uma dívida que temos para com Deus. Jesus conta uma parábola, em Mateus 18.23-25, Mateus 18.23-25, que traz de modo claro essa correlação entre um pecado e uma dívida. Quando pecamos, roubamos a Deus. Todo pecado é contra Deus (Sl 51.4Sl 51.4). Tal dívida é paga por Jesus, em sua obra salvífica, na qual a ira do Senhor foi satisfeita. Mesmo assim o cristão deve orar por perdão, diariamente. Por que isso é necessário?

O cristão deve pedir perdão a Deus pelos seus pecados, ainda que já tenham sido pagos por Cristo. O nosso Deus sonda os nossos pensamentos e desvenda até mesmo os nossos pecados mais sombrios e desconhecidos, e até mesmo a eles perdoa. Contudo, podemos desfrutar da plena certeza do perdão de Deus quando nos humilhamos diante dele, em espírito de contrição, confiando na promessa de que “ainda que você tenha sido um pródigo, que gastou tudo em suas luxúrias, se você der uma carta de divórcio para seus pecados e fugir para Deus por arrependimento; ele, que tem as entranhas de um pai, vai te abraçar nos braços de sua misericórdia, e selar teu perdão com um beijo”.[1]

O cristão deve pedir perdão, pois não há menor possibilidade de pagar a sua própria dívida. Quando o prazo de uma dívida a um credor impaciente é chegado, a primeira reação do endividado é suplicar: “dê-me mais uma semana, e eu te pagarei!” Mas a dívida do homem para com Deus é altíssima, de tal maneira que não há chance de se conseguir pagar. Por isso, o cristão suplica: “Perdoa-nos as nossas dívidas”. É uma declaração de falência. Esse é o pedido de quem sabe que o único jeito é ser perdoado.

O cristão deve pedir que que Deus o perdoe, assim como tem perdoado os seus devedores. Quem é perdoado, perdoa. Perdoamos porque sabemos que não somos superiores a quem nos ofendeu. É impossível perdoar uma pessoa, quando nós achamos superiores a ela. Qualquer ofensa que você possa ter sofrido é insignificante em comparação com a nossa dívida para com Deus. Quem se recusa a perdoar um pecador arrependido se coloca no lugar de Deus. O filho mais velho, da parábola do Filho Pródigo (Lc 15.11-32Lc 15.11-32), se vê como melhor juiz que seu pai. Tal inclinação o levou a ofender o pai.

O cristão deve perdoar generosamente, com disposição de coração, como Deus faz com seus filhos. Ele não apenas nos perdoa, mas também restaura o nosso relacionamento com ele, caminha conosco, e nos dirige a fim de que abandonemos os nossos pecados, “pois ele não só é pai, mas o melhor e mais bondoso de todos os pais, contanto que nos lancemos em sua mercê, ainda que sejamos filhos ingratos, rebeldes e obstinados”.[2]

O cristão deve pedir perdão pelos seus pecados em suas orações. Cite cada um deles a Deus, em oração. Humilhe-se perante o Senhor. Reconheça que você é o pior pecador que você conhece (1Tm 1.151Tm 1.15). Se há alguém que você ainda não perdoou, busque a reconciliação (Mt 18). Ore por essa pessoa. Fale a Deus sobre a sua dificuldade em perdoar. Peça a ele: “Deus, ajuda-me a perdoar essa pessoa, quero colocar isso em suas mãos”. E assim, desfrute do amor do nosso Pai perdoador.


[1]  Thomas Watson, The Select Works of the Rev. Thomas Watson, Comprising His Celebrated Body of Divinity, in a Series of Lectures on the Shorter Catechism, and Various Sermons and Treatises (New York: Robert Carter & Brothers, 1855), 390.

[2] Calvino, João. Institutas da Religião Cristã. Editora Fiel. Edição do Kindle.