Ao contrário do que comumente se pensa, a tentação do pecado quase nunca vem de um modo direto, escandaloso, como que em letras garrafais de um outdoor que diz: “Venha pecar!”. A tentação vem quase sempre de um modo sutil. O pecado torna-se atraente justamente pela maneira que é apresentado a nós, como algo “agradável” e “desejável” (Gn 3.6 ). É por isso que devemos estar atentos ao processo pelo qual somos tentados. Podemos ver esse processo em Gênesis 3.1-6 , na narrativa da Queda. A maneira pela qual Adão e Eva são tentados serve também para nós um paradigma de como a tentação se dá em nossa vida.
ADULTERANDO A PALAVRA DE DEUS
Num primeiro estágio, a tentação começa quando dúvidas são colocadas a respeito da Palavra de Deus. A serpente do Éden, ao dirigir-se à mulher, adultera e contradiz a Palavra de Deus (v. 1, 4). Em sua pergunta (v. 1), a primeira pergunta da história, ela adultera a ordem divina, dizendo: “É assim que Deus disse: ‘Não comereis de toda árvore do jardim?’”. Já em sua afirmação (v. 4), ela contradiz diretamente a Palavra de Deus, ao dizer “é certo que não morrereis”.
Esse foi o primeiro ato de Satanás em sua tentativa de levar o ser humano a pecar: levantar questionamentos e instigar incertezas a respeito da Palavra de Deus. Mentiras e incertezas com relação à Bíblia são um prato cheio para o pecado! Quantos já não tentaram adulterar as ordens divinas para justificar a sua prática pecaminosa? Quantos já não disseram “Não é bem assim” e fazem até mesmo malabarismos teológicos para manter as suas práticas errôneas?
Quando priorizamos o estudo da Bíblia e nos dedicamos em nossa devoção à Deus, somos fortalecidos e permanecemos firmes contra as armadilhas de Satanás (Ef 6.1-10 ). Do contrário, quando vivemos na dúvida e nadamos nas áreas cinzentas da ética, corremos o risco de não sermos suficientemente categóricos quando tivermos de tomar decisões difíceis. Lembre-se de que Jesus, quando tentado por Satanás, respondeu aos ataques com a Palavra de Deus (Mt 4.1-11 ).
DUVIDANDO DO CARÁTER DE DEUS
Num segundo estágio, a tentação nos leva a pôr em xeque o caráter de Deus. Note que a resposta de Eva à serpente, ao mesmo tempo em que a corrige, também acrescenta algo que Deus não ordenou. Ela diz que Deus os proibiu de “comer” e “tocar” o fruto da árvore do meio do jardim (v. 3). Isso não é totalmente verdade, visto que Deus apenas os proibiu de comer, e não de tocar (Gn 2.17 ). Isso é um indício de que Eva, em seu coração, já considerava o mandamento de Deus severo demais. Quantas vezes não vimos Deus como um “estraga-prazeres”, que nos proíbe de provar de cosias boas?
A serpente instiga o coração de Eva ao pôr em xeque a intenção de Deus. A serpente insinua que Deus seria um egoísta, que priva os homens de seu conhecimento por não desejar que se se tornem iguais a ele. Ela lança dúvidas sobre o caráter, a justiça e a santidade de Deus. O mesmo acontece quando somos tentados. Muitas vezes ignoramos que Deus estabeleceu limites não por ser são um tirano estraga-prazeres, mas porque é um pai amoroso que deseja o melhor para os seus filhos. Ou até mesmo questionamos a razão de Deus permitir que passemos por sofrimento e privações, e isso nos leva nos sentir no direito de transgredir os seus limites. Nos momentos de tentação, devemos nos certificar do amor de Deus por nós, que estabelece limites para o nosso bem.
TORNANDO O PECADO ATRAENTE
Num terceiro estágio, a tentação nos leva a ver o pecado como algo atraente. Eva viu que a árvore era “boa para para se comer, agradável aos olhos e desejável para dar entendimento”, e então “tomou-lhe do fruto e comeu” (v 6). A tentação fez um apelo aos apetites da carne, à cobiça dos olhos e ao orgulho que leva o homem a querer ser igual a Deus. A mesma tríade aparece em 1Jo 2.15 : a concupiscência da carne e dos olhos e a soberba da vida.
Esse é o engano do pecado. Ele promete ser a solução dos nossos problemas, satisfazer as nossas necessidades e tornar-nos maiores do que somos. O pecado promete ser o seu amigo, mas é, na verdade, um grande mentiroso. Divorciar-se do seu cônjuge não fará a sua vida melhor. Cometer aquela desonestidade para subir na carreira não te tornará um melhor profissional. Cometer adultério não trará de volta o seu vigor, tampouco lhe fará se sentir amado. Quem segue por esse caminho descobre, cedo ou tarde, a mentira em que acreditou. O pecado sempre irá lhe trair. Cedo ou tarde as consequências dele virão. Um dia tudo virá à tona no grande julgamento. Nada pode ser escondido do próprio Deus.
O que fazer diante disso? Graças a Deus temos um salvador que acerta onde nós erramos. Jesus Cristo, quando tentado, respondeu com a Palavra de Deus, reafirmou o caráter de Deus e rejeitou todas as ofertas mentirosas do inimigo (Mt 4.1-11). E todos aqueles que creem em Jesus Cristo podem encontrar nele as palavras de vida eterna, conhecem por meio dele o verdadeiro caráter do Pai e tem nele toda o contentamento necessário para rejeitar qualquer oferta de Satanás. Agora cabe aos crentes buscar mais firmemente a Deus na Palavra e na oração e andar vigilantes quanto as armadilhas do inimigo. Que Deus nos dê a graça de resistir às tentações!